De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), nos últimos 20 anos, a incidência de doenças endócrinas pediátricas aumentou bastante. A grande suspeita desse crescimento é a maior produção e utilização de produtos químicos que acabam sendo desreguladores endócrinos.
Essa linguagem parece muito técnica e assustadora, mas não é necessário se desesperar, eu explico tudo!
O que são desreguladores endócrinos?
Podem, também, ser encontrados como interferentes endócrinos. Basicamente, são substâncias químicas que, ao entrarem no organismo, afetam as funções hormonais. Eles podem aumentar, diminuir ou até mesmo bloquear a produção de hormônios do corpo. Isso resulta em alterações endócrinas. De acordo com especialistas, impacta principalmente a função reprodutiva.
Onde são encontrados desreguladores endócrinos
São encontrados em basicamente tudo. No ar que respiramos, na água que bebemos, em alimentos, cosméticos, brinquedos, no escritório, em casa, e no campo.
Com uma abrangência tão grande, pode ser difícil controlar o contato. Mas é super importante para que algumas condições de saúde não sejam agravadas ou até mesmo geradas.
A maioria dos desreguladores endócrinos são absorvidos pelas vias digestivas. Porém, é possível se contaminar pela pele. É até possível que uma mãe transfira para o bebê durante a gestação e a amamentação.
As maneiras mais comuns de se expor às substâncias são:
– água, solo ou alimentos contaminados com pesticidas
– contato com produtos industriais
– uso de embalagens plásticas
– produtos de beleza ou higiene pessoal
– tubulações de ar condicionado
– bicos de mamadeiras
Quais os desreguladores endócrinos mais conhecidos?
Aqui, vou explicar quais são eles, onde são encontrados e o que podem gerar no organismo com a exposição:
- DDT, Metiran, Dieldrin, Paration – estão presentes em fungicidas, herbicidas e pesticidas – efeitos: irregularidade menstrual, criptorquidia e hipospádia
- Benzeno – presente em gasolina, removedor e thinners – efeito: alteração da menstruação
- Chumbo – encontrado em baterias, primers, pigmentos e tintas – efeitos: atrofia testicular, diminuição dos espermatozoides e aumento do risco de aborto
- Cádmio – existente em estabilizantes de plásticos, pigmentos e baterias – efeitos: atrofia testicular, diminuição dos espermatozoides e tumores de testículos
- Mercúrio – presente em agrotóxicos, tintas e rios contaminados por garimpo – efeitos: consequências neurológicas
- Estireno – encontrado em copos de plástico descartáveis – efeito: aumento do risco de aborto
- Bisfenol A/BPA – presente no revestimento interno de latas, resinas epóxi – efeitos: estímulo da ovulação, secreção de prolactina e estrógenos
- Ftalatos – encontrado em cosméticos como esmaltes de unha, vernizes e inseticidas – efeitos: câncer de mama, alteração de hormônios.
Perceba como os desreguladores podem estar em itens muito utilizados no cotidiano. Brinquedos, embalagens e utensílios comuns podem ter contaminação de chumbo, mercúrio e outros interferentes. Os efeitos também são bastante preocupantes para a saúde, principalmente a longo prazo.
Os desreguladores químicos são mais perigosos?
Quando comparados aos naturais, sim. Os desreguladores naturais são rapidamente eliminados pelo organismo, não ficando acumulados. Já os químicos podem se acumular em células gordurosas, apresentando dificuldade e resistência para serem eliminados. Assim, acabam agindo como hormônios naturalmente produzidos e alteram o funcionamento do organismo.
O uso de produtos químicos pode estar diretamente relacionado com distúrbios neurocomportamentais, puberdade feminina precoce, problemas reprodutivos masculinos e várias outras causas.
Existem algumas substâncias conhecidas como “obesogênicos”. Elas atingem tanto o organismo e alguns órgãos vitais do sistema endócrino que alteram completamente o metabolismo, o apetite e resulta em obesidade.
Como prevenir a exposição aos desreguladores endócrinos?
Não é certa a quantidade de exposição aos desreguladores endócrinos para que gerem danos à saúde. Contudo, alguns estudos já apontam que o mínimo de exposição já tem um grande impacto.
Considerando isso, a SBP faz algumas recomendações para que isso seja evitado:
– Usar itens como mamadeiras, chupetas, mordedores que tenham o selo “BPA free”
– Não aquecer alimentos em recipientes plásticos no micro-ondas
– Evitar armazenar alimentos gordurosos em sacos, recipientes ou filmes plásticos
– Lavar muito bem frutas e vegetais antes do consumo. Se possível, descascá-los
– Sempre que possível, consumir alimentos orgânicos
– Evitar uso de pesticidas. Caso for preciso usar, siga corretamente todas as recomendações de manipulação do fabricante e armazene o produto fora do alcance das crianças
É importante destacar o uso do plástico. É muito comum usar itens de plástico, como copos, garrafas, bicos de mamadeira, entre outros. Para ter certeza de que o objeto não é nocivo, entenda mais sobre os selos existentes. BPF e BPS não são os mesmos que BPA, por exemplo. Alguns fabricantes utilizam essas siglas para que o consumidor seja confundido.
O melhor, realmente, é optar pela compra de orgânicos, lavar sempre muito bem produtos naturais antes do consumo e, se possível, buscar quais os agrotóxicos usados nos alimentos que você compra.