Ao falar de torcicolo, muitas pessoas podem acreditar que é um “problema de adulto”, o que não é verdade. Crianças têm torcicolo. A Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) chamou a atenção para essa questão em uma das edições do Boletim “Pediatra – Atualize-se” deste ano.
Existem 2 principais formas de torcicolo infantil, congênita ou adquirida. Ambas as formas precisam e devem ser tratadas para que a criança não tenha sequelas e tenha uma maior qualidade de vida.
Torcicolo: o que é?
Basicamente, torcicolo é uma alteração na posição do pescoço ou vértebras que gera uma inclinação da cabeça. Pode ser congênito ou adquirido, doloroso ou não.
O torcicolo congênito, na maioria das vezes, não é doloroso. Ele acontece por algum outro fator do corpo, como uma síndrome. Já o adquirido necessita de um fator como um trauma para ocorrer.
Torcicolo em bebês
O torcicolo é bastante comum em bebês recém-nascidos. Uma a cada 250 crianças com idade de 2 a 4 semanas tem uma contratura unilateral do músculo esternocleidomastoideo, que leva à uma deformação do pescoço.. Não se sabe a origem exata, mas existem diversas causas relatadas para a aparição do torcicolo desde o nascimento. São elas:
- trauma durante a gestação
- mau posicionamento do bebê no útero
- trauma cervical durante o trabalho de parto
- processo inflamatório com fibrose muscular pós parto
Alguns dos fatores que indicam o torcicolo são assimetria da face e cabeça inclinada para um lado sempre. O que contribui para que esses fatores sejam desenvolvidos são:
– muito tempo na cadeirinha ou bebê conforto
– não alternar os lados durante a amamentação
– dormir sempre na mesma posição.
Diagnóstico
Alguns médicos especialistas podem diagnosticar o torcicolo. Pediatras, Ortopedistas e Oftalmologistas. Pode ser feito através de consulta clínica, na qual o profissional irá fazer uma anamnese detalhada e exame físico minucioso.
Na anamnese, os responsáveis da criança podem relatar detalhes sobre a região do pescoço e costas da criança. No exame clínico, o médico irá verificar a movimentação do pescoço, assimetrias da face e do crânio.
Pode ser que o torcicolo seja gerado por um nódulo intramuscular. Essa, sim, é uma causa extremamente incomum para o torcicolo neonatal. Neste caso, a assimetria da face é um dos indicativos para o diagnóstico.
Para complementar e fechar o diagnóstico, o médico pode pedir alguns exames, como a radiografia da coluna cervical. Esse exame, por exemplo, identifica se existem outras condições, como algum defeito ósseo.
O diagnóstico feito muito tarde pode trazer problemas como escoliose e dores crônicas.
Tratamento
Tratamentos existem e devem ser feitos. Assim como qualquer outra situação de saúde, quanto antes diagnosticado e tratado, melhores são os resultados. Estima-se que a fisioterapia faz com que entre 90 e 95% das crianças tenham um tratamento com maior sucesso e melhora no primeiro ano de vida.
Geralmente, são indicadas sessões diárias ou bastante frequentes de fisioterapia, adaptações do ambiente, dicas de como carregar e posicionar a criança. Outra indicação é acompanhamento com ortopedista pediatra.
Os responsáveis precisam realizar alguns movimentos e alongamentos com a criança para que o tratamento traga uma melhora maior ainda.
Algumas crianças podem precisar utilizar capacetes, em caso de plagiocefalia. Assim como outras podem até precisar de cirurgia. Porém, são casos mais raros de crianças com alguma deformidade no crânio que leva a uma limitação dos movimentos do pescoço.
Entre quatro e cinco meses de tratamento, a maioria dos casos é resolvida. Contudo, é indicado que os responsáveis fiquem sempre atentos e levem a criança ao acompanhamento multidisciplinar frequentemente. Enquanto os responsáveis relatam a rotina, médicos podem identificar algumas características clínicas.
É importante procurar a causa para dar tratamento ao torcicolo. A anquiloglossia ou freio lingual curto pode produzir torcicolo devido a dificuldade do bebê conseguir mamar. Com isso, ele termina adotando posturas viciosas para melhorar a sucção. Realizando o procedimento de frenotomia, que é liberar o freio lingual, o torcicolo desaparece.
A ajuda de um Osteopata é importante no tratamento do torcicolo.
Torcicolo ocular
Um dos diagnósticos de torcicolo pode ser dado por oftalmologistas. Isso se dá porque existe um tipo de torcicolo que é causado por um problema ocular. Muitas vezes, quando um pediatra não encontra causas evidentes para o torcicolo, encaminha a criança para um oftalmo.
Crianças com estrabismo, erro refrativo, blefaroptose, redução do campo visual e nistagmo podem desenvolver torcicolo. Elas podem manifestar, principalmente, em atividades que exigem uma concentração visual maior.
Sem perceber, a criança tenta ajustar a cabeça em uma posição que lhe dê um maior conforto visual. Nesses casos, especificamente, enquanto o tratamento definitivo não começa ou não está ajustado, não é necessário fazer com que a criança pare de ficar naquela posição..
Por essas e por outras é muito importante o acompanhamento com pediatra desde o bebê recém nascido. Apesar de torcicolo ser algo que pode ser tratado rapidamente por adultos, quando desenvolvido em crianças, o cuidado precisa ser maior.
Principalmente, porque o torcicolo pode ter sido gerado de outro problema. Quanto mais atentos os responsáveis estiverem, mais rápido pode ser o diagnóstico e melhores os resultados do tratamento.
Você sabia que recém-nascidos podem ter torcicolo?